quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Calimero por um dia!

 
 
 
Para quem não esteja familiarizado com estas coisas (este é aquele tipo de informação que não perdemos nada em não ter), a quimioterapia para quem queira traz um bonus.
Também temos jogos que  nos ocupam durante as horas que lá passamos. É uma espécie de jogo da glória. Subimos e descemos escadas, paramos, temos cobras e até dias que correspondem a casas.
Deste jogo faz parte um capacete gelado que com alguma sorte evita (ou não) a queda de cabelo.
Como tudo na vida, isto também não é de borla. A quimioterapia é uma hora, e este tratamento acrescenta mais uma ou duas por sessão.
Eu e  minha irmã decidimos em equipa que também jogavamos este jogo. Podia ser que tivessemos sorte e não "NOS" caísse o cabelo. Várias vezes pensámos desistir, mas cada dia eram mais as casas  para trás do que aquelas pela frente.
Um dia recebi um presente no hospital. Um Calimero! Parecenças?
P.S. O meu cabelo está comprido.
 
 

sábado, 10 de agosto de 2013

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Medida certa

Tinha um metro que me deu a minha mãe há muito tempo. Estava encardido, e já mal se conseguia ver o que alguma vez ali tinha estado escrito.
Não sei porquê mas há sempre aquelas coisas que parecem nunca desaparecer e sempre que abrimos uma caixa ou gaveta daquelas que já nem sabíamos o que tínhamos lá dentro, aparecem.
Hesitamos. Não, ainda posso vir a precisar dela. Se chegou até aqui porquê deitá-la fora.
Lembro-me  com alguma graça que durante anos medi tudo com ela. Com ela fiz cortinas, forrei mesas, aventurei-me no mundo das saias, forrei armários. Só um dia quando precisei de comprar qualquer coisa é que me confrontei com a triste realidade de que a minha fita métrica não media o mesmo que as fitas métricas dos outros.
Voltei triste para casa assumindo desde logo que a minha fita porque estava velha, e já nem tinha um metal que costumavam ter nas extremidades (devia ser para o metro não ter a veleidade de crescer e vir a tornar-se um Km), tinha que ser a errada.
Confrontei-me com este mesmo dilema durante toda a minha doença.
Qual a medida certa para o sofrimento que os outros estão dispostos a aguentar? Qual a medida certa da esperança? Qual a medida certa da vida? É cedo ou tarde? Já vivi muito tempo ou ainda deveria ter muito tempo pela frente? Li muitos livros? O que deixo aos outros? Como gostei e amei?
Qual a medida certa?

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A vida é uma aventura vertiginosa

Viver com cancro é fazer de cada dia uma aventura vertiginosa.

Primeiro acordamos e confirmamos que estamos mesmo na nossa cama e não numa nuvem fofa (a cama também é fofa) cheia de anjinhos a atazanarem-nos a paciência sobre coisas que teremos feito mal e sobre as quais insistimos que nem nos lembrarmos.

Depois chega a grande cena do pequeno almoço. Uma grande fatia de pão branco cheia de manteiga fresca e um grande copo de leite. Não, não e não. Um chá e torradas de pão escuro, que nem chegam a saber tão bem assim porque um sininho nos vai alertando (deve ser amigo dos anjinhos)que devíamos era estar a beber um saudável sumo multivitamínico.

Agora ficaram para trás os grandes banhos de espuma. A hora do banho é nova aventura.

Tentar passar o gel o mais rápidamente possível porque as pontas dos dedos podem chocar com qualquer coisa que não devia estar onde está. Lavar debaixo do braço é um desporto radical.

Sim, porque ao outro já fizeram o favor de me aliviar dessa preocupação.

Bom, e lá começa o dia em que vamos fazer de "sem preocupações". Dura pouco. Porque a partir de uma determinada fase do dia só queremos mesmo é ir para casa e ficar sózinhos. Chegam as memórias e sofremos baixinho.

Hora de dormir. Vamos por umas horas esquecer tudo. Um alívio.

Deitamo-nos e ouvimos o coração de quem gostamos muito. E se não tivermos tempo???

sexta-feira, 26 de abril de 2013

O que não mata.

O que não mata torna-nos mais fracos.
Nunca compreendi a frase: O que não nos mata torna-nos mais fortes.
A mim sempre me tornou mais fraca.
Estarão a falar de músculos?
Capacidades desportivas?
Arranque?
Robustez?
Anatomia do coração?

Este senhor está com cara de quem sofre muito. Deve ser muito forte.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sentei-me, abri ansiosamente a carteira, um estado de alma que em nada se viria a comparar com os minutos que se seguiram.
Foi sábado à tarde. Aquele dia em que ainda temos o domingo, por isso ainda estamos serenos.
Procurei o maço de cigarros. Ainda estava meio cheio, que é como tudo se deve manter. Deve ser esta a dose certa que define a esperança.
Tirei um cigarro. O fumo ganhou forma de passeios junto à praia, de olhares coniventes. Coniventes porque tantas vezes secretos.
Lá vai mais uma volta e uma pirueta, um rodopio seguido de salto acrobático.
Dois pensamentos e um voo planado.
Já não fumo.



domingo, 31 de março de 2013

Se tanto me dói que as coisas passem


Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem

                     Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 23 de março de 2013

It´s my party and I cry if I want to


"Há verdades inconvenientes.
 Há pessoas inconvenientes"
 Shame on them

Steve Jobs - Discurso Stanford COMPLETO

sexta-feira, 15 de março de 2013

"A gente só nasce quando as dores são nossas" (Natália Correia)

quinta-feira, 14 de março de 2013

Humor

Hoje li. Gostei.

"Podemos rir disto? Podemos, é tudo uma questão de perspectiva"

Morrer e renascer no mesmo dia

Estamos habituados a ouvir quase todos os doentes de cancro dizer que a partir do momento em que souberam que estavam doentes, passaram a dar outro valor à vida, deixaram de se preocupar com algumas coisas, tendo outras ganho nova dimensão.
Aqui, já tive oportunidade de falar mais ou menos sobre este assunto.
O que aos outros parece tão especial nestes doentes, não é mais do que a sua capacidade de morrer todos os dias, e renascer em cada dia.
Gozar cada momento como se fosse o último, amar e deixar quem se ama saber e sentir o quanto gostamos deles.
Ver tudo com olhos de ver e tentar gravar e fotografar tudo para o caso de um dia só podermos recordar, sabermos viver com novos sentidos.
Manter a calma mas manter a segurança que é mesmo aquilo o que estamos a fazer,  que queremos para nós, e nunca esquecer que um dia os outros guardarão  a imagem  de quem lutou e ganhou cada batalha por nós e por eles também. Por todos aqueles que estão doentes. Não desistir.
Este é o meu presente para quem eu gosto mais! Saber que em cada dia para mim cabe uma vida.
Saber despedir-me todos os dias!

quarta-feira, 13 de março de 2013

"HOJE ACORDEI COM MEDO MAS NÃO CHOREI"

sexta-feira, 8 de março de 2013

Porque há dias assim...


Tenho uma amiga de quem gosto muito e que também fez tudo o que sabia para me animar.

Disse-me um dia: "aproveita, que ter cancro da mama é chique! Estão sempre a sair nos jornais, notícias de eventos de apoio ou angariação de fundos para mulheres "vítimas" de cancro da mama (esta parte da vítimas ainda não percebi muito bem), temos que fazer parte de uma Associação.

Talvez pelo número de horas que passámos juntas, houve momentos para tudo. Um momento que recordo, cuja reflexão guardarei para o resto da vida e tentarei sempre passar a quem como eu se possa esquecer, é aquele que vou partilhar aqui, pois me parece adequado ao dia que hoje comemoramos.

Um dia fomos jantar fora, num dos inúmeros jantares durante os quais eu chorei todo o jantar. (Houve jantares pagos a preço de ouro, em restaurantes "diferentes", para eu fazer a linda figura de chorar. Haja paciência!). Eu não queria nada, não precisava de nada, só o meu umbigo é que me realizava. Era o mais bonito de todos. A seguir ao meu cancro claro, pela avaliação da minha irmã.

As minhas amigas já não me estavam a achar muita graça. A pena tem limites.

Foi quando uma delas impaciente me disse: "sabes, para teres todos os direitos que hoje tens enquanto doente de cancro, houve quem se tenha batido muito. Foram precisos muitos anos de luta para tu agora dizeres que não queres e que não queres saber dos teus direitos nem das Associações. Colabora!"

Feliz dia, para homens e mulheres!!!!!!!!!!!

 

quarta-feira, 6 de março de 2013

A minha irmã é a maior!!!!!!!!

 Por me ter lembrado, vou partilhar a máxima que a minha irmã utiliza quando lhe faltam argumentos (o que é para este efeito perdoável).
Hoje tive que me rir porque o disse com a mesma convicção (ou com pouco dela) com que o disse vezes sem conta durante aqueles dois anos.
Conversa telefónica em que o assunto era o cancro da mama de uma pessoa pública:
Eu: Coitada, vê lá que lhe apareceu outra vez cancro da mama.
(silêncio. Tipo: pronto já viu a revista, e agora?)
Ela: pois, mas o caso dela era muito pior que o teu.
Eu: outra vez, lá vem, o meu cancro é sempre bom, o dos outros é sempre mau.
Ela: não, esse eu sei, é mesmo muito pior...........

Bom, o resto não interessa. Para a minha irmã o meu cancro é sempre o melhor cancro de todos os cancros.
Vamos perdoar, deve ser assim que consegue manter alguma sanidade mental.


segunda-feira, 4 de março de 2013

Dias chupa chupa


          

Tudo o que tenho partilhado até agora parece estar suspenso no tempo e no espaço, mas não, também existia uma rede que suportava qualquer queda inadvertida. Essa rede chamava-se "trabalho" ou melhor ainda "colegas e amigos".
O impossivel ou o pouco provável conseguiu acontecer. O meu cancro tornou-se uma festa (ou pelo menos assim tentámos).
Um dia choveram chupa chupas. Abri um dos armários de trabalho e tinha à minha frente um chupa chupa gigante cheinho de chupa chupas em forma de coração lá dentro. Durante a hora a seguir, a sala parecia um patio em dia de aniversário de crianças. Este foi o primeiro dia da romaria de dias em que o trabalho passou a ser conforme costumava dizer com todo o carinho, o meu laboratório.
Foi com eles que partilhei o meu primeiro corte de cabelo, o primeiro dia da peruca e também aquele sem ela. Tivemos medo juntos e recuperámos  quando chegou a altura.
Hoje quando olho para trás reconheço alguns dias em que devem ter sofrido, dias em que duvidaram e dias em que acreditaram, mas tentando sempre manter a maior normalidade.
Se também houve dias lunares? Sim, houve dias em que tive que subir as escadas agarrada à parede, dias em que me fizeram bolos para me animar, dias em que a Catarina partilhou comigo algumas refeições e todo o carinho do mundo. Dela dependi durante meses. Não imagino esses dias sem todos aqueles que não vou mencionar porque sabem muito bem quem são e de quem eu gosto todos os dias.
Assinado: Coração lollipop!

sábado, 2 de março de 2013

A minha irmã e eu durante dois anos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Espelhos Meus

Nem sempre somos tão nobres, tão excelsos e tão puros.
Todos os dias e meses acordava com o medo de ver nos outros uma resposta desadequada às minhas dúvidas. Sim, porque somos supostos sermos nós a ter os tais pensamentos catastróficos e a realidade a ser bem mais esperançosa e prometedora.
O palhaço que havia em mim e que muitas vezes saía em noites sem espectáculo, afinal fazia rir antes que os outros resolvessem apresentar uma linguagem corporal pouco recomendada como às vezes é a da verdade.
Recentemente li um livro que sobre uma criança com cancro. Ele contava como era divertido o hospital e toda a equipa que o seguia até que um dia o médico, os enfermeiros e os Pais passaram a apresentar caras fechadas e nunca mais sorriram. A partir desse dia o Hospital deixou de ter piada. Porquê?
Porque a partir de determinado momento já ninguém consegue brincar e é nessa precisa altura que se passa a falar a língua dos espelhos.
Espelhos meus, haverá alguém tão saudável como eu?

Cristiano Ronaldo - Motivational - 2013 | HD


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

...vamos falando pelo caminho.


Quando decidi iniciar este blog, tive oportunidade durante alguns dias de fazer uma pesquisa do que poderia encontrar que respondesse às minhas perguntas.
Bem, para ser sincera queria mesmo encontar algo igualzinho ao que eu estava a pensar fazer. Assim, seria mais fácil escudar-me na vida de outra pessoa qualquer.
Uhm, as pessoas não andam a dizer toda a verdade.
Onde estão os dias em que nos consideramos imbatíveis, capazes de a partir daí enfrentar o pior dos dragões? Os dias em que nos sentimos sábios porque um sábio nunca está só. Os dias em que pensamos que nunca mais vamos ter par neste mundo e os dias em que assim mesmo não nos levantamos.
Não é porque estamos enjoados, não é porque as pernas não obedecem, não é porque temos areia em vez de pés,  é mesmo porque o cancro é uma história privada.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

sábado, 2 de fevereiro de 2013

"A ÚLTIMA LIÇÃO"


Um dia recebi um pequeno embrulho que me deixou logo muito curiosa. Não estava habituada a receber tais surpresas pelo correio. A curiosidade aponta sempre para o remetente. Minha querida Tia. Já me mandara lanternas, patos (quando eu achava que ía fazer uma coleção e me preocupava de um dia poder vir a não ter espaço para tamanha preciosidade. Acabaram todos no caixote do lixo sem terem ocupado mais do que uma pequena mesa), canetas, cartões e pela primeira vez UM LIVRO. Para a minha Tia me mandar um livro teria que ser uma joia.
Nessa tarde sentei-me e li o livro sofregamente. Obrigada tia. Foi uma lição que me serviu para aquela altura e para bem mais tarde quando me vi na mesma situação Não é importante o final porque a história é uma lição de vida e não de cancro.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Todo o passado por um dia

Nesse dia cheguei a casa. Não estava ninguém. Sentei-me, puxei de um cigarro e deixei-me cair no sofá. Literalmente.
Como estar altura da coragem que o momento exige?.Coragem
Em relação aos tratamentos propostos a decisão já tinha sido tomada com o médico, não havia 2ª volta nestas eleições.
A questão era: Como criar uma espécie de barreira para que o que quer que viesse, pudesse doer o menos possivel.
Lembrei-me do que repeti tantas vezes: "Não tenho medo das quedas mas sim do impacto". Especializei-me em quedas livres. Free fall! Amortecer a queda.
Até aí parecia saber eu bem o caminho. Por qualquer razão, ou por incidentes passados, percebi que de alguma forma tinha pressentido este momento.
Tinha-me preparado. Até as minhas amizades pareciam terem sido também escolhidas como fontes de informação e de preparação. Estranho! Estarei para sempre grata pela sua companhia.
Teria que fazer uso de tudo aquilo em que até aí acreditara. A vida é uma lição. Chegou a altura do exame final. Trabalhar a partir de agora para que todos saibam o quanto gosto deles. Os outros existem para além do nosso cancro. Põe-te bonita! Tu não és o cancro.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Um degrau na cidade




Era  mês de Julho. Final do dia. Aquela hora perigosa do final do dia. Uma faixa de tempo indefinido, em que não sabemos se ainda estamos ao abrigo do pôr-do-sol ou já protegidos pela noite.
Acabada de sair do hospital sentamo-nos num degrau de um predio antigo, eu e a minha amiga Rosario, e como que sem rumo vagueamos entre o surpreendente da notícia que tinhamos acabado de ouvir e a curiosidade de qualquer coisa já antecipada, tantas vezes já falada. Qualquer coisa que não estava bem. Tinha havido sinais, historias que ferem o corpo. Permitidas. Estava com um cancro.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

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