Tinha um metro que me deu a minha mãe há muito tempo. Estava encardido, e já mal se conseguia ver o que alguma vez ali tinha estado escrito.
Não sei porquê mas há sempre aquelas coisas que parecem nunca desaparecer e sempre que abrimos uma caixa ou gaveta daquelas que já nem sabíamos o que tínhamos lá dentro, aparecem.
Hesitamos. Não, ainda posso vir a precisar dela. Se chegou até aqui porquê deitá-la fora.
Lembro-me com alguma graça que durante anos medi tudo com ela. Com ela fiz cortinas, forrei mesas, aventurei-me no mundo das saias, forrei armários. Só um dia quando precisei de comprar qualquer coisa é que me confrontei com a triste realidade de que a minha fita métrica não media o mesmo que as fitas métricas dos outros.
Voltei triste para casa assumindo desde logo que a minha fita porque estava velha, e já nem tinha um metal que costumavam ter nas extremidades (devia ser para o metro não ter a veleidade de crescer e vir a tornar-se um Km), tinha que ser a errada.
Confrontei-me com este mesmo dilema durante toda a minha doença.
Qual a medida certa para o sofrimento que os outros estão dispostos a aguentar? Qual a medida certa da esperança? Qual a medida certa da vida? É cedo ou tarde? Já vivi muito tempo ou ainda deveria ter muito tempo pela frente? Li muitos livros? O que deixo aos outros? Como gostei e amei?
Qual a medida certa?
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