Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem
Sophia de Mello Breyner Andresen
domingo, 31 de março de 2013
Se tanto me dói que as coisas passem
quinta-feira, 14 de março de 2013
Morrer e renascer no mesmo dia
Estamos habituados a ouvir quase todos os doentes de cancro dizer que a partir do momento em que souberam que estavam doentes, passaram a dar outro valor à vida, deixaram de se preocupar com algumas coisas, tendo outras ganho nova dimensão.
Aqui, já tive oportunidade de falar mais ou menos sobre este assunto.
O que aos outros parece tão especial nestes doentes, não é mais do que a sua capacidade de morrer todos os dias, e renascer em cada dia.
Gozar cada momento como se fosse o último, amar e deixar quem se ama saber e sentir o quanto gostamos deles.
Ver tudo com olhos de ver e tentar gravar e fotografar tudo para o caso de um dia só podermos recordar, sabermos viver com novos sentidos.
Manter a calma mas manter a segurança que é mesmo aquilo o que estamos a fazer, que queremos para nós, e nunca esquecer que um dia os outros guardarão a imagem de quem lutou e ganhou cada batalha por nós e por eles também. Por todos aqueles que estão doentes. Não desistir.
Este é o meu presente para quem eu gosto mais! Saber que em cada dia para mim cabe uma vida.
Saber despedir-me todos os dias!
Aqui, já tive oportunidade de falar mais ou menos sobre este assunto.
O que aos outros parece tão especial nestes doentes, não é mais do que a sua capacidade de morrer todos os dias, e renascer em cada dia.
Gozar cada momento como se fosse o último, amar e deixar quem se ama saber e sentir o quanto gostamos deles.
Ver tudo com olhos de ver e tentar gravar e fotografar tudo para o caso de um dia só podermos recordar, sabermos viver com novos sentidos.
Manter a calma mas manter a segurança que é mesmo aquilo o que estamos a fazer, que queremos para nós, e nunca esquecer que um dia os outros guardarão a imagem de quem lutou e ganhou cada batalha por nós e por eles também. Por todos aqueles que estão doentes. Não desistir.
Este é o meu presente para quem eu gosto mais! Saber que em cada dia para mim cabe uma vida.
Saber despedir-me todos os dias!
quarta-feira, 13 de março de 2013
sexta-feira, 8 de março de 2013
Porque há dias assim...
Tenho uma amiga de quem gosto muito e que também fez tudo o que sabia para me animar.
Disse-me um dia: "aproveita, que ter cancro da mama é chique! Estão sempre a sair nos jornais, notícias de eventos de apoio ou angariação de fundos para mulheres "vítimas" de cancro da mama (esta parte da vítimas ainda não percebi muito bem), temos que fazer parte de uma Associação.
Talvez pelo número de horas que passámos juntas, houve momentos para tudo. Um momento que recordo, cuja reflexão guardarei para o resto da vida e tentarei sempre passar a quem como eu se possa esquecer, é aquele que vou partilhar aqui, pois me parece adequado ao dia que hoje comemoramos.
Um dia fomos jantar fora, num dos inúmeros jantares durante os quais eu chorei todo o jantar. (Houve jantares pagos a preço de ouro, em restaurantes "diferentes", para eu fazer a linda figura de chorar. Haja paciência!). Eu não queria nada, não precisava de nada, só o meu umbigo é que me realizava. Era o mais bonito de todos. A seguir ao meu cancro claro, pela avaliação da minha irmã.
As minhas amigas já não me estavam a achar muita graça. A pena tem limites.
Foi quando uma delas impaciente me disse: "sabes, para teres todos os direitos que hoje tens enquanto doente de cancro, houve quem se tenha batido muito. Foram precisos muitos anos de luta para tu agora dizeres que não queres e que não queres saber dos teus direitos nem das Associações. Colabora!"
Feliz dia, para homens e mulheres!!!!!!!!!!!
quinta-feira, 7 de março de 2013
quarta-feira, 6 de março de 2013
A minha irmã é a maior!!!!!!!!
Por me ter lembrado, vou partilhar a máxima que a minha irmã utiliza quando lhe faltam argumentos (o que é para este efeito perdoável).
Hoje tive que me rir porque o disse com a mesma convicção (ou com pouco dela) com que o disse vezes sem conta durante aqueles dois anos.
Conversa telefónica em que o assunto era o cancro da mama de uma pessoa pública:
Eu: Coitada, vê lá que lhe apareceu outra vez cancro da mama.
(silêncio. Tipo: pronto já viu a revista, e agora?)
Ela: pois, mas o caso dela era muito pior que o teu.
Eu: outra vez, lá vem, o meu cancro é sempre bom, o dos outros é sempre mau.
Ela: não, esse eu sei, é mesmo muito pior...........
Bom, o resto não interessa. Para a minha irmã o meu cancro é sempre o melhor cancro de todos os cancros.
Vamos perdoar, deve ser assim que consegue manter alguma sanidade mental.
Hoje tive que me rir porque o disse com a mesma convicção (ou com pouco dela) com que o disse vezes sem conta durante aqueles dois anos.
Conversa telefónica em que o assunto era o cancro da mama de uma pessoa pública:
Eu: Coitada, vê lá que lhe apareceu outra vez cancro da mama.
(silêncio. Tipo: pronto já viu a revista, e agora?)
Ela: pois, mas o caso dela era muito pior que o teu.
Eu: outra vez, lá vem, o meu cancro é sempre bom, o dos outros é sempre mau.
Ela: não, esse eu sei, é mesmo muito pior...........
Bom, o resto não interessa. Para a minha irmã o meu cancro é sempre o melhor cancro de todos os cancros.
Vamos perdoar, deve ser assim que consegue manter alguma sanidade mental.
segunda-feira, 4 de março de 2013
Dias chupa chupa
Tudo o que tenho partilhado até agora parece estar suspenso no tempo e no espaço, mas não, também existia uma rede que suportava qualquer queda inadvertida. Essa rede chamava-se "trabalho" ou melhor ainda "colegas e amigos".
O impossivel ou o pouco provável conseguiu acontecer. O meu cancro tornou-se uma festa (ou pelo menos assim tentámos).
Um dia choveram chupa chupas. Abri um dos armários de trabalho e tinha à minha frente um chupa chupa gigante cheinho de chupa chupas em forma de coração lá dentro. Durante a hora a seguir, a sala parecia um patio em dia de aniversário de crianças. Este foi o primeiro dia da romaria de dias em que o trabalho passou a ser conforme costumava dizer com todo o carinho, o meu laboratório.
Foi com eles que partilhei o meu primeiro corte de cabelo, o primeiro dia da peruca e também aquele sem ela. Tivemos medo juntos e recuperámos quando chegou a altura.
Hoje quando olho para trás reconheço alguns dias em que devem ter sofrido, dias em que duvidaram e dias em que acreditaram, mas tentando sempre manter a maior normalidade.
Se também houve dias lunares? Sim, houve dias em que tive que subir as escadas agarrada à parede, dias em que me fizeram bolos para me animar, dias em que a Catarina partilhou comigo algumas refeições e todo o carinho do mundo. Dela dependi durante meses. Não imagino esses dias sem todos aqueles que não vou mencionar porque sabem muito bem quem são e de quem eu gosto todos os dias.
Assinado: Coração lollipop!
sábado, 2 de março de 2013
Espelhos Meus
Nem sempre somos tão nobres, tão excelsos e tão puros.
Todos os dias e meses acordava com o medo de ver nos outros uma resposta desadequada às minhas dúvidas. Sim, porque somos supostos sermos nós a ter os tais pensamentos catastróficos e a realidade a ser bem mais esperançosa e prometedora.
O palhaço que havia em mim e que muitas vezes saía em noites sem espectáculo, afinal fazia rir antes que os outros resolvessem apresentar uma linguagem corporal pouco recomendada como às vezes é a da verdade.
Recentemente li um livro que sobre uma criança com cancro. Ele contava como era divertido o hospital e toda a equipa que o seguia até que um dia o médico, os enfermeiros e os Pais passaram a apresentar caras fechadas e nunca mais sorriram. A partir desse dia o Hospital deixou de ter piada. Porquê?
Porque a partir de determinado momento já ninguém consegue brincar e é nessa precisa altura que se passa a falar a língua dos espelhos.
Espelhos meus, haverá alguém tão saudável como eu?
Todos os dias e meses acordava com o medo de ver nos outros uma resposta desadequada às minhas dúvidas. Sim, porque somos supostos sermos nós a ter os tais pensamentos catastróficos e a realidade a ser bem mais esperançosa e prometedora.
O palhaço que havia em mim e que muitas vezes saía em noites sem espectáculo, afinal fazia rir antes que os outros resolvessem apresentar uma linguagem corporal pouco recomendada como às vezes é a da verdade.
Recentemente li um livro que sobre uma criança com cancro. Ele contava como era divertido o hospital e toda a equipa que o seguia até que um dia o médico, os enfermeiros e os Pais passaram a apresentar caras fechadas e nunca mais sorriram. A partir desse dia o Hospital deixou de ter piada. Porquê?
Porque a partir de determinado momento já ninguém consegue brincar e é nessa precisa altura que se passa a falar a língua dos espelhos.
Espelhos meus, haverá alguém tão saudável como eu?
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