Tinha eu nove anos vivia em África e os meu pais decidiram, que nas férias grandes iríamos para Londres passar quinze dias.
Como era prática corrente naquela altura na família eu, a minha irmã e a minha mãe, partiríamos uma semana antes do meu pai.
Ficamos num Hotel que tinha uma sapataria na esquina imediatamente antes entrada do dito Hotel.
O ser imediatamente antes tem importância para salientar que se contássemos o número de vezes em que entrávamos e saíamos do Hotel era o mesmo número de vezes que passávamos na montra da dita sapataria.
Logo à chegada os meus lindos olhos azuis brilharam de paixão.
A partir daí foram choros, humilhações, pedidos e horas passadas a sonhar, que o meu pai quando chegasse a primeira coisa que iria fazer seria comprar-me os sapatos às cores.
O meu pai chegou e juntou-se ao grupo dos "Não compradores de sapatos às cores" da minha família.
Como estão a perceber o outro grupo era só eu.
Até hoje não percebo porque é que não me compraram os sapatos.
Até hoje mantenho a mesma leitura: Não estavam sequer interessados.
Entretanto passaram cinquenta anos.
No principio deste verão, passei por uma sapataria onde vi a brilhar na montra as sandálias sem as quais, achava eu, não sobreviveria à dita estação.
TODOS os meus vestidos só poderiam ser usados com aquelas sandálias.
Saldos? AQUELAS sandálias nunca iriam para saldos.
Aquela sapataria jamais poria as sandálias de cristal na montra.
Os meses foram passando e cada vez que passava na dita montra já não havia choros, nem humilhações, nem a chegada do pai.
Deixei passar o verão, as sandálias nunca foram para saldos e ninguém mas ofereceu.
Desta vez gozei cada dia que por lá passei.
O filme era o mesmo. Os atores do alto da sua grande sabedoria passaram o verão a perguntar com ar jocoso: Já estão em saldos?
Eu nem respondia..
Um belo dia apanhando-me sozinha, entrei na sapataria e comprei as ditas sandálias.
Passearam os meus vestidos e com elas voei por todo o lado.
Nunca deram por isso: Não estavam interessados.
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