quinta-feira, 12 de setembro de 2019

As cores dos outros

Há textos que me chegam sem eu bem saber porquê.
A minha espécie de Blog é uma maravilha.
Ninguém o lê por isso posso escrever os maiores disparates e cometer os maiores erros ortográficos ou gramaticais.
Nem acordo nem desacordo.
É a minha Feira Popular ou um Parque de Diversões.
Hoje chegou-me um texto que me daria muito prazer partilhar  mas achei que não podia fazer.
Tenho uma admiração e um querer profundo pela pessoa que o escreveu.
Gostava que soubesse que o li para que percebesse como gostei do Texto.
Quando o comecei a ler foi como se eu própria o conseguisse o escrever até ao fim.
Esta Feira Popular também tem um Túnel Escuro de onde saem barulhos e esqueletos.
Gostava que soubesse que o li mas não me deixa.
Já não gosta de mim.
Já não quer nem saber que eu existo, que me mexo ou respiro.
Haverá uma Mandala feita por mim e colorida da cor dos outros.
Pintarei outra toda de Azul.
Há textos que também lhe podem chegar.









segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Centopeia venenosa

Tinha eu nove anos vivia em África e os meu pais decidiram, que nas férias grandes iríamos para Londres passar quinze dias.
Como era prática corrente naquela altura na família eu, a minha irmã e a  minha mãe, partiríamos uma semana antes do meu pai.
Ficamos num Hotel que tinha uma sapataria na esquina imediatamente antes entrada do dito Hotel.
O ser imediatamente antes tem importância para salientar que se contássemos o número de vezes em que entrávamos e saíamos do Hotel era o mesmo número de vezes que passávamos na montra da dita sapataria.
Logo à chegada os meus lindos olhos azuis brilharam de paixão.
A partir daí foram choros, humilhações, pedidos e horas passadas a sonhar, que o meu pai quando chegasse a primeira coisa que iria fazer seria comprar-me os sapatos às cores.
O meu pai chegou e juntou-se ao grupo dos "Não compradores de sapatos às cores" da minha família.
Como estão a perceber o outro grupo era só eu.
Até hoje não percebo porque é que não me compraram os sapatos.
Até hoje mantenho a mesma leitura: Não estavam sequer interessados.
Entretanto passaram cinquenta anos.
No principio deste verão, passei por uma sapataria onde vi a brilhar na montra as sandálias sem as quais, achava eu, não sobreviveria à dita estação.
TODOS os meus vestidos só poderiam ser usados com aquelas sandálias.
Saldos? AQUELAS sandálias nunca iriam para saldos.
Aquela sapataria jamais poria as sandálias de cristal na montra.
Os meses foram passando e cada vez que passava na dita montra já não havia choros, nem humilhações, nem a chegada do pai.
Deixei passar o verão, as sandálias nunca foram para saldos e ninguém mas ofereceu.
Desta vez gozei cada dia que por lá passei.
O filme era o mesmo. Os atores do alto da sua grande sabedoria passaram o verão a perguntar com ar jocoso: Já estão em saldos?
Eu nem respondia..
Um belo dia apanhando-me sozinha, entrei na sapataria e comprei as ditas sandálias.
Passearam os meus vestidos e com elas voei  por todo o lado.
Nunca deram por isso: Não estavam interessados.



domingo, 8 de setembro de 2019

O armário desarrumado

Tenho sempre dito que a minha casa sou eu e é verdade.

Devo confessar que em mim cabe um armário.

Numa casa em que vivia havia uma despensa que quando se abria a porta, caía sempre um monte de roupa por passar, que durante semanas nunca deixava ver o conteúdo das prateleiras que supostamente estavam tapadas por essa cordilheira de roupa.
Sei que de vez em quando vislumbrava uma lata de leite Molico, que comprei um dia em que uma bruxa fez anunciar que iria haver um terramoto seguido de tsunami em Lisboa.
Como a minha filha era pequena pareceu-me que estaria bem comprar uma lata de leite em pó.
Essa lata permaneceu na despensa até eu um dia ter decidido deita-la fora após ter confirmado, que estava tão fora de prazo como o dito terramoto.
O grande segredo era que debaixo da roupa jaziam subterrados todos os meus segredos.
Um telemóvel que comprei às escondidas para falar com as minhas amigas.
Era um Motorola daqueles a que chamávamos um tijolo, contas velhas, extratos do banco da minha conta conjunta, que eu fazia desaparecer da caixa do correio porque cada extrato, cada discussão em
que eu  participava com uma única frase: "Eu não sei o que isso é. Deves ter sido tu".
Não me perguntem porque é que eu não deitava fora as ditas cartas.
Sei lá. Devia pensar que esconde-las era mais honesto.
Vestidos que eu comprava com o dinheiro que o meu pai me dava em vez de o encaminhar para as batatas etc.
Como não ficamos sempre iguais, fui evoluindo e ganhando novas competências.
A roupa passou a estar sempre passada a ferro e eu tive que arranjar um armário.
Passei tudo para o meu armário do quarto.
Caos.
Ficou tudo em sacos plásticos.
Quando saía levava os sacos comigo e punha no porta bagagens.
Um dia a minha amiga Rosário com quem eu tinha "autorização para sair", quando batemos a porta de casa perguntou-me:
Há meses que cada vez que saímos vens com sacos plásticos atrás. O que é que trazes aí?
Dei uma resposta esfarrapada e a Rosário compreendeu que era melhor dar por encerrada a conversa.

Passaram 40 anos.
No outro dia ouvi a seguinte repreensão: Tens o armário todo desarrumado e andas sempre com sacos.
Sorri.
Entretanto fiz terapia mas nem o tempo nem o dinheiro deram para chegar à questão do armário.
Quando voltar talvez seja melhor começar por aqui.
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