Há dias em que chegava a casa verdadeiramente cansada e pensava: (eram muitos os dias)
"Agora vou tomar um banho de imersão, fumar um cigarro (esta já conhecem), escolher um gel bem cheiroso, velas, um pacote de sal e um pouco de vinagre". Todos estes, ingredientes que normalmente me obrigavam a optar pelo chuveiro a seguir, serviam só de pretexto para uma imersão ao fundo de um lamaçal.
Chegava a ficar mais de uma hora num ambiente altamente poluído, uma mistura de bar para fumadores e de discoteca onde só passavam musicas que eu soubesse cantar. Sim, porque eu era uma vedeta com voz de ouro, mas com um reportório de fazer chorar as pedras da calçada. Em todas as letras havia sempre alguém com o coração partido.
Ainda hoje não sei porquê. Achei por bem dispensar a psicanálise.
Não sei se estão bem a ver a cena. O cenário tinha tudo para resultar, mas acabava comigo sempre a ter que abrir as janelas todas, preocupada com o facto de eventualmente ter ficado com os poros entupidos, o cabelo todo encharcado e com aquele aspeto frisado que só um bom banho turco consegue.
Ufa!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!que bem que me sabia a chuveirada que tomava a seguir. Desintoxicante, relaxante e cheirosinho. Essa sim.
A minha filha costuma dizer que a água com que tomo banho está mais suja do que eu.
Sim. Confesso. Tenho a mania dos banhos.
Se acreditasse nesses mundos, até diria que devia ter sido muito porca noutra vida.
Agora só me resta a parte da chuveirada. Muito rápida. Muito cheirosa e sempre, todos os dias, o medo de encontrar um alto qualquer fora do sítio, uma alteração na pele ou como dizia o meu senologista: um dinossauro.
É como regressar a uma floresta que tenha sido devastada pelo fogo.
Não fico triste. Pago muito menos de água e a minha pele esá muito melhor.
quinta-feira, 15 de maio de 2014
Stephen tinha 46 objectivos e um cancro. Apenas um ficou por cumprir
Stephen Sutton morreu na quarta-feira, após quatro anos a lutar contra um cancro que se revelou incurável.
No dia 22 de Abril, Stephen, um rapaz de Burntwood, Staffordshire, escrevia, a partir da cama do hospital, aquela que pensava ser uma das suas últimas mensagens no Facebook. “É uma pena que o fim tenha chegado tão subitamente — ainda há tantas pessoas a quem ainda não agradeci apropriadamente ou me despedi. Peço desculpa por isso”, escreveu o jovem, lamentando que deixava muito por fazer nas suas campanhas. “Continuarei a lutar enquanto puder, e o que quer que seja que venha a acontecer, quero que saibam que estou num bom sítio mentalmente e confortável com a situação”, continuou. Depois, a despedida: “É tudo da minha parte. Mas a vida tem sido boa. Muito boa”.
Depois deste post, Stephen escreveu ainda mais alguns, na sua maioria de surpresa por continuar vivo, mesmo depois de um novo internamento no último domingo devido a complicações respiratórias. Na quarta-feira, a sua página no Facebook foi actualizada mais uma vez, mas agora pela mãe. “O meu coração transborda de orgulho mas está partido devido à dor pelo meu corajoso, altruísta, inspirador filho que morreu calmamente a dormir às primeiras horas desta manhã.”Para trás ficaram meses de trabalho e iniciativas descritas pelo próprio jovem na página que criou, Stephen’s Story, em Janeiro de 2013. Inicialmente, a página era actualizada cada vez que concretizava uma das 46 coisas que queria fazer antes de morrer. A Stephen’s Story foi ganhando seguidores, até mais de um milhão, e o Facebook passou a centrar-se na ajuda aos outros, através de angariação de donativos, mensagens de motivação ou de humor. Stephen abriu ainda contas no Twitter, Tumblr, Instagram e YouTube e as suas acções multiplicaram o número de seguidores e de donativos.
O primeiro pedido de donativo de Stephen surgiu pouco depois de saber, em 2012, que o seu cancro se tinha espalhado pelo corpo e que era terminal. Angariou dez mil libras para o Teenage Cancer Trust. Durante 2013, o jovem conseguiu angariar mais de 560 mil libras (686 mil euros), que chegaram até Maio deste ano a 3,2 milhões de libras, destinados a ajudar a luta contra o cancro.
Ao longo dos últimos meses ganhou vários prémios pelo seu voluntariado e foi fotografado ao lado de algumas das principais individualidades britânicas, entre celebridades e políticos, incluindo o primeiro-ministro, David Cameron, que o visitou no hospital num dos seus internamentos desde o início de Maio.
Cameron deixou uma das primeiras reacções à morte de Stephen. “Estava determinado a não desperdiçar um minuto, a não desperdiçar uma hora ou um dia”, disse o chefe de governo. “Era absolutamente inspirador, fez coisas extraordinárias por caridade e conhecê-lo foi um enorme privilégio.”
O comediante Ricky Gervais recordou Stephen como um “herói e uma inspiração para todos”. Ed Miliband, líder do Partido Trabalhista, destacou a “coragem e determinação em viver a vida” do jovem.
Numa recente entrevista ao jornal Daily Mail, Stephen admitiu que estar próximo da morte era “assustador mas ao mesmo tempo incrivelmente revigorante”. “Estar tão próximo da morte apenas reforçou todos os sentimentos para fazer o máximo com o que temos.” Após saber que a sua doença era incurável, o jovem disse que deixou de “medir a vida em termos de tempo” e começou a “medi-la em termos do que podia de facto fazer."
segunda-feira, 5 de maio de 2014
Soneto do Amor e da Morte
Quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. Quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.
Quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.
Vasco Graça Moura
Quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. Quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.
Quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.
Vasco Graça Moura
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