Pare! Escute e Olhe!
Entre uma Mandala e outra.
Entre o azul e o rosa.
Num mar de lápis de cor, perdi-me toda a tarde.
Era-me tudo familiar e tão diferente ao mesmo tempo.
Os exames do Hospital e as cartas com marcações de consultas.
O medo! Muito medo!
Desta vez não vou chorar. Nunca mais vou chorar.
Não quero ter medo. Só quero os meus lápis de cor e ficar fechada para sempre.
Para sempre é muito tempo. É o tempo de eu pintar quantas Mandalas? 20? 50? 1500?
Segunda-feira vou comprar mais lápis azuis. O azul deve ser uma boa cor.
É a cor de alguns pássaros e é a cor de algum mar.
O meu coração é azul.
Vou pintar tudo de azul.
Lembro-me. Era o verde que tinha na mão quando compreendi o que era de tão diferente.
Os amigos não eram os mesmos.
A esperança não era a mesma. Já não vou para Ranholas onde me esperavam muitos corações azuis.
A Sala 14.
Era lá que me ensinavam todos os dias qual era o passo seguinte.
Não quero falar no assunto porque jurei que não ia chorar para sempre e não tenho lápis de cor para a saudade.
Este foi o primeiro a acabar. Dizem que vendem avulso.
As Mandalas fazem parar, ouvir o coração e olhar para o alto.
Tenho um sonho. Desenhar a minha própria Mandala e nunca mais pintar as Mandalas dos outros.
De certeza que isto é como estar a viver a vida e os sonhos dos outros.
Vou-me lembrar em cada Mandala de todos esses amigos.
Pode ser que assim fique tudo como antes.