Era eu muito pequenina quando a minha mãe me contou esta história. Veio a contar-me vezes sem conta. Foram as únicas vezes que a ouvi falar da Mãe e Senhora Minha Avó.
Sempre pensei que o filme África Minha era a história da vida da minha avó.
Mais, justificaria a minha não prisão a espaços físicos limitados e a minha acentuada facilidade de improvisação de "lares".
Foi coisa que me veio mais tarde a criar alguns conflitos.
Durante anos fui de férias para o Algarve. Os dez dias da praxe.
Conheci e passei férias em vários apartamentos ou casas alugadas.
No primeiro dia limpava a casa toda, trocava móveis, arrancava literalmente os "quadrinhos pirosos da parede" e fechava-os num armário. No último dia colocava tudo no lugar.
E fui repetindo este ritual todos os anos, deixando para trás muitas casas/lares.
Era de tal forma, que até chegava a pensar que a qualquer momento poderia aparecer na caixa do correio uma carta em meu nome. Ou quem sabe, a conta da luz.
Tem sido a história da minha vida.
Ah! A história da minha avó!?
Vou só contar a parte que pode interessar, o resto da história conseguem imaginar.
Uma casa de sonho no meio do mato em África, com cortinas brancas a proteger dos mosquitos, uma varanda colonial e grandes e sólidos móveis de madeira em cima de um soalho também de madeira.
Viviam todos felizes.
Quando chegou a Àfrica, a minha avó só trazia com ela um grande mala de porão onde tinha guardadas "loiças de Limoges", o dom de improvisar um lar fazendo com as suas próprias mãos lindas cortinas e mesas aristocraticamente postas. (tudo isto tendo como pano de fundo histórias de príncipes e princesas que enfeitavam as origens do meu avô).
Mãe Minha!