segunda-feira, 5 de março de 2018

domingo, 4 de março de 2018

A essência das coisas!

Press Life
 
Este Blog  foi um presente. Foi-me oferecido.  Recuso a ideia de alguém já ter recebido um Blog como presente.
 
 

Herberto Helder — LEVANTO as mãos e o vento levanta-se nelas.

 
Levanto as mãos e o vento levanta-se nelas.
Rosas ascendem do coração trançado
das madeiras.
As caudas dos pavões como uma obra astronómica.
E o quarto alagado pelos espelhos
dentro. Ou um espaço cereal que se exalta.
Escondo a cara. A voz fica cheia de artérias.
E eu levanto as mãos defendendo a leveza do talento
contra o terror que o arrebata. Os olhos contra
as artes do fogo.
Defendendo a minha morte contra o êxtase das imagens.
 
Helder, Herberto, Ofício Cantante, Lisboa: Assírio & Alvim 2009
 


Jogo das cadeiras

Meu caro,

A semana passada tive   oportunidade de o visitar mais uma vez em sua casa.
Não digo que tenha sido por convite, mas mais uma vez  por vontade minha e prazer  de o visitar sempre que possível.
Gostaria devo dizer, de um dia o ver sentado na minha sala onde teríamos de certeza uma conversa aprazível. Seria meu prazer oferecer-lhe uma chávena de chá tipo inglesa com um chá tipo inglês, pois como sabe esta historia do chá inglês tem andado mal contada.
No dia que o visitei não tive muito tempo para me arranjar cuidadosamente, limitando-me a ir "clean" como agora se ousa dizer.
Têm sido já algumas as entradas que tenho feito em sua casa.
Na continuidade das mesmas mantendo a "cerimonia" mas ganhando já algum espaço, tenho vindo a interrogar-me porque me sento sempre na mesma poltrona.
O seu lugar está reservado, mas diga-me caro amigo o que aconteceria se eu um dia entrasse e me sentasse na sua cadeira?
Pedia-me desculpa por aquela não ser opção e dar-me-ia outra a escolher?
Ou de facto não tenho ido elegantemente vestida ou será que não me enquadro noutro quadro.?!
Permita-me que lhe diga, que estou sempre confortavelmente sentada e que declinarei sempre o seu convite para outra instalação.
Entre outras imagens que tenho da minha infância ou coisa parecida, lembro-me do jogo das cadeiras.
Nas festinhas nunca queria jogar pois antecipava-me estatelada no meio do chão enquanto as mais "enquadradas" naquele quadro de festa teriam como que por direito e decreto uma cadeira.
Desde aí fico desconfiada porque é que aquele é o meu lugar e não outro, principalmente quando está escolhido antecipadamente e é da família das cadeiras.
Não lhe tomo mais tempo e não considere este meu desabafo como sendo uma falta de cortesia da minha parte à qualidade e alma dos nossos encontros.
Grata e bem-haja
E&T



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