sábado, 3 de dezembro de 2016

Chavela Vargas - En el último trago


Thormfield Hall

Ao longo dos anos, sempre que me perguntavam onde morava, via-me confrontada com um misto de respeito e de desconfiança.
Thornfield Hall.
Reconheço, que sempre houve alguma curiosidade alheia sobre o que se passaria naquela casa escondida atrás de uma imensa árvore.
Confesso que tive que ir à wikipédia ver como se escrevia devidamente o nome daquela árvore, que definiu durante tantos anos a nossa morada.
Sorri. Afinal o que li, validava a curiosidade  que lia nos olhos de toda  aquela gente que passava na minha rua.
Araucária.
Era mesmo diferente. Descubro  isto cinquenta anos depois.
"A araucária, apesar de popular, não é conhecida completamente pela ciência. Diversos estudos vêm sendo feitos recentemente para entendermos melhor a ecologia e biologia desta árvore; também são necessários para orientar as urgentes medidas de proteção que ainda precisam ser tomadas para assegurar a sobrevivência desta espécie sensível e altamente especializada em um ambiente que rapidamente vai sendo invadido e destruído pelo homem, mas ainda persistem muitas incertezas e contradições em vários aspectos. Esse conhecimento imperfeito da matéria, que confunde até a conceituação e aplicação das leis ambientais que deviam protegê-la e ainda não conseguem fazê-lo - veja-se o recuo continuado das áreas onde sobrevive - mais as variadas exigências que a planta impõe no cultivo planejado para que possa render bem, desanimam muitos reflorestadores, que preferem espécies mais bem conhecidas, de crescimento mais rápido e que não demandem tantos cuidados. Entretanto, os estudiosos são unânimes em declarar a necessidade de sua salvação, tanto por sua importância econômica e ecológica como paisagística e cultural"
Sempre acompanhada por uma sensação intangível em relação à contabilização do número de pessoas que habitavam lá em casa, fui vivendo.
Bertha, Jane, Rochester....
Houve sempre o mito que vivia uma louca no último andar.
Vivi sempre entre barulhos de saias que dançavam, levantando o pó dos soalhos.
Entre gritos diluídos pelas fortes trovoadas africanas. Correrias de médicos a que se seguiam dias de silencio.
Eu, ia e vinha da escola com o Sr. António, nosso motorista.
A esse seguiram-se mais alguns, mas a minha memoria só guardou o primeiro. A minha concha. O andar onde eu vivia. Esse, o meu verdadeiro lar.
Um dia  voltou Jane Eyre,  a casa pegou fogo. Dizem que Bertha era louca e que vivia no último andar. Terá deixado cair uma vela acesa.









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